Uma piada ou anedota é uma breve história, de final engraçado e às vezes surpreendente, cujo objetivo é provocar risos ou gargalhadas em quem a ouve ou lê. É um recurso humorístico utilizado na comédia e também na vida cotidiana.
As piadas já foram alvo de estudos acadêmicos sérios. Um bom exemplo é "O chiste e sua relação com o inconsciente", estudo produzido por Sigmund Freud.[1]O "pai da psicanálise" dividiu as piadas em duas categorias básicas: As "ingênuas" — que utilizam jogos de palavras — e os "chistes tendenciosos" — que possuem um lado erótico e (ou) preconceituoso. Enquanto na primeira o humor não estaria no conteúdo, mas na surpresa do trocadilho, na segunda o risoseria provocado pela "aversão às diferenças ou pela zombaria de estereótipos".
Outro cientista, Marvin Minsky, também sugere que rir tem uma função específica no cérebro humano. Em sua opinião, piadas e risos são mecanismos para o cérebro aprender o nonsense. Seria essa a razão, segundo o pesquisador, para que as piadas normalmente não sejam tão engraçadas quando contadas repetidas vezes.
Além disso, o riso (em tese, o principal objetivo da piada) é considerado como algo saudável, pois libera endorfina (hormônio produzido no cérebro que produz sensação de bem-estar e alivia a dor), além de diminuir a pressão arterial e aliviar a tensão.
A maior parte das piadas contêm dois componentes: uma introdução genérica (por exemplo, "Um homem entra num bar…") e um final surpreendente, que entra em choque com o desenvolvimento. O nível de supresa do final se modifica de acordo com o quanto de ironia se pretende alcançar.
No século XII, São Tomás de Aquino já escrevia que "brincar é necessário para levar uma vida humana", defendendo que as piadas seriam importantes para repor das "forças do espírito". ([2])Contudo, nem todos os religiosos concordavam com os benefícios das piadas e do humor. No romance O Nome da Rosa, por exemplo, o autor Umberto Eco centra a trama em livros que haviam sido proibidos pelo Vaticano exatamente por conterem um estudo de Aristótelessobre o riso.
O senso de humor varia em cada cultura. O que é engraçado para um povo pode não ser para outro. Um estudo da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, versou sobre o assunto em 2004, objetivando colher opiniões através da internet para se descobrir qual seria "a melhor piada do mundo".[3]
Através do resultado dessa pesquisa, observou-se o quanto a cultura local influencia no "senso de humor" de cada povo. Os britânicosdemonstraram gostar mais de trocadilhos, enquanto franceses e alemães costumavam optar por piadas que tendiam ao nonsense. Já osestado-unidenses preferiam piadas sobre assuntos locais.
Contudo, algumas características foram independentes do país. Homens, de uma maneira geral, demonstraram gostar de piadas que envolvessem sexo e preconceito, enquanto as mulheres não gostavam desse tipo de conteúdo. Como a pesquisa só possui até o momento dados de Estados Unidos, Canadá e Europa, não há análise sobre as preferências dos ibero-americanos.
As duas piadas consideradas por esse estudo como "as melhores do mundo" são as seguintes:[3]
A popularidade das piadas fez com que elas se tornassem uma importante ferramenta da publicidade.[4] Muitos produtos são vendidos utilizando-se piadas. Um curioso exemplo surgiu em 2001, no Brasil, quando uma seguradora chamada Sinaf espalhou outdoors no Rio de Janeiro e em São Paulo com piadas sobre a morte. Apesar de algumas pessoas considerarem de mau-gosto, a campanha obteve resultados positivos.[5]
No Canadá, a ONG Éduc’alcool utiliza piadas que ridicularizam bêbados para desenvolver uma campanha contra o uso excessivo do álcool. Foi considerado que campanhas com piadas atingiam melhor os objetivos do que campanhas "moralistas".[6]
Não existe uma classificação formal para os diferentes "tipos" de piadas. Além disso, há diferenças culturais entre países e regiões que fazem com que algo que pode ser considerado engraçado num lugar não o seja em outro.
As diferenças estabelecem-se também ao longo do tempo, formando verdadeiros ciclos literários que têm sido estudados e catalogados por folcloristas.[7] Estes modelos constituem os anedotários típicos de cada cultura num dado espaço e tempo.
É uma das que mais caracterizam as diferenças regionais. Nos Estados Unidos, por exemplo, são muito populares piadas sobre advogados.[8] Já na Itália, é usual contarem piadas sobre a polícia local (Carabinieri).[9]
As piadas que versam sobre política podem satirizar fatos políticos da atualidade ou em relação aclichês relativos ao assunto. Na Idade Média, os bobos-da-corte costumavam entreter os reis fazendo piadas políticas em relação à Corte. As charges de jornais também costumam trazer piadas políticas, quando há alguma espécie de diálogo ou texto em conjunto com o desenho.
As minorias também são alvo preferencial de piadas. No Brasil são muito comuns piadas sobre portugueses e as sobre "homossexuais".
Em Portugal se associa muito a prostituição às emigrantes brasileiras, fazendo-se diversas piadas. As imigrantes do Leste da Europa também costumam ser alvo deste estereótipo.
Da mesma forma, piadas étnicas utilizam estereótipos sobre algum grupo étnico, cultura específicos, fazendo referência a algum outro povo. Geralmente, todas as piadas étnicas costumam ser consideradas "politicamente incorretas". Por vezes, o alvo não é de outra etnia, mas de uma região geográfica distinta, como acontece com as anedotas de alentejanos, em Portugal.
A intolerância às piadas racistas varia de acordo com cada localidade. Na Argentina, por exemplo, piadas sobre negros são menos reprovadas pela sociedade do que no Brasil, onde podem ser consideradas como crime, dependendo do contexto. Geralmente, as piadas racistas possuem um conteúdo que visa a demonstrar a "inferioridade" de alguma raça em relação a outra, seja sobre negros, índios, brancosou orientais.
No caso das piadas étnicas que envolvem outros povos, mudam bastante os protagonistas de acordo com o país. No Brasil, por exemplo, são muito comuns as piadas sobre portugueses, americanos, turcos e argentinos, além disso de piadas sobre moradores de outros estados ou cidades (por exemplo, piadas decariocas sobre paulistas e vice-versa). Em Portugal, contam-se piadas principalmente sobre alentejanos, os povos da África lusófona, franceses, ingleses e espanhóis.
Outros países possuem diferentes "vítimas" das piadas. Na Finlândia, contam-se piadas sobre russos eciganos. Nos Estados Unidos, sobre polacos, canadenses e mexicanos. No Canadá, sobre os moradores deTerra Nova e Labrador e americanos. Os britânicos contam piadas sobre irlandeses, enquanto que na Índia, opta-se pelos seguidores do sikhismo. Os franceses gostam de piadas sobre belgas.
Curiosamente, apesar de cada país utilizar diferentes "personagens" para as piadas, elas costumam ter um conteúdo muito parecido, mudando apenas os "protagonistas". Geralmente, a principal parte da piada diz respeito a erros cometidos pelos habitantes desses países, passando uma imagem de "burros" ou "inaptos".
Também costuma haver piadas que trazem mais de uma nacionalidade, geralmente fazendo-se comparações entre os estereótipos de cada uma, mas normalmente trazendo a conclusão com o "alvo preferido" de quem conta.
Um caso à parte é o das piadas sobre judeus, que possuem um humor bastante específico, sendo que na própria comunidade judaica são contadas piadas sobre judeus. Geralmente, fazem-se piadas sobre o estereótipo da "mãe judia" ou de outras características consideradas marcantes (mesmo que não correspondam necessariamente a todos da comunidade, como a avareza).
São piadas que fala sobre alcoólatras. Geralmente as piadas acontecem em bares e na rua. Algumas delas, o homem alcoolátra chega emcasa de madrugada, e recebido á xingamentos pela esposa. É comum nessas piadas falarem sobre traição.
Uma piada sexista é a que satiriza as características de um gênero ou sexo, considerando-o "inferior" ao outro. Pode ser desenvolvida como uma piada tradicional, como piada suja ou até como uma piada do tipo de pergunta e resposta.
Uma espécie de "subgênero" das piadas sexistas são as "piadas de louras". Comuns em diversos países, essas piadas satirizam mulheres que possuem cabelos louros, sendo consideradas como "burras". Apesar de também serem, de certa forma, piadas racistas, costumam ser consideradas principalmente como sexistas.
São piadas que utilizam o "final surpreendente" como resposta para alguma pergunta feita por quem conta a piada. Normalmente se utilizam perguntas curtas que podem ter duas respostas (a que o interlocutor imagina ser a resposta verdadeira e a que o piadista complementa como "final surpreendente"). Muitas vezes a resposta tende ao nonsense, dando origem ao que é frequente designar-se em Portugal como "anedotas secas. Uma variante comum no Brasil são as perguntas estilo "Você conhece…?", originando-se esse tipo de piadas perguntando-se o conhecimento do interlocutor ao Mario. Cuja resposta é "Aquele que te comeu (teve atos sexuais com você) atrás do armário".[10]
Nos Estados Unidos, a piada de pergunta e resposta mais popular é a "Por que a galinha atravessa a rua?". No Brasil, são muito populares as "piadas dos pontinhos"[11] e as "piadas de elefantes".[12]
Muitas destas piadas são qualificadas de secas (embora nem todas sejam pergunta-resposta), ao fazerem uso do anticlímax. A piada funciona por, paradoxalmente, não ter piada. O nonsense ou a falta de lógica da mesma acaba por fazer levar ao riso, devido à simples desilusão, após um momento de expectativa.
É costume, quando alguém diz um dito supostamente engraçado a propósito de uma situação qualquer, que o interlocutor responda: "Essa foi mesmo seca." ("essa" subentende-se: a piada, o dito).
Uma piada suja (em Portugal usa-se mais o epíteto "picante") geralmente satiriza tabus sexuais, portanto também costuma variar de acordo com o país. Geralmente falam-se obscenidades ou palavrões, ainda que por vezes estes possam apenas estar subentendidos.
Essas são as piadas que satirizam fatos mórbidos. Um exemplo seriam as piadas referentes à morte de alguém ou sobre alguma situação trágica (um terremoto que tenha devastado um país ou uma comunidade que passe fome, por exemplo). No Brasil ficaram famosas as piadas sobre os trágicos acidentes que culminaram com a morte de Ayrton Senna e com a do grupo Mamonas Assassinas, interpretadas como uma espécie de catarse da comoção nacional sentida em ambas as ocasiões. Por vezes, este género está associado com as piadas racistas (com a morte de Samora Machel, houve uma corrente de anedotas mórbidas de cariz racista, em Portugal).
Os trocadilhos, ou jogos de palavras, são possivelmente as piadas que geram a maior dificuldade para tradução, já que só fazem sentido para uma dada língua ou sistema lexical. Em muitos casos, é simplesmente impossível traduzir um trocadilho, pois ele trabalha especificamente com palavras que podem ter significados completamente diferentes em outra língua ou, até mesmo, entre duas regiões que falam a mesma língua mas possuem gírias diferentes.
Um trocadilho pode ser infame (quando o "duplo sentido" é forçado), ingênuo (quando é uma simples brincadeira de palavras) ou malicioso (utilizando-se de preconceitos). No Brasil, é muito comum trocadilhos com animais, especialmente jumentos, galinhas, vacas e piranhas, dado o "duplo sentido" que a alusão a esses animais gera automaticamente.
Não é possível categorizar todos os tipos existentes de piadas, já que, muitas vezes, uma piada pode se encaixar em mais de uma das categorias citadas anteriormente (ou até em nenhuma delas). Alguns outros tipo de piadas menos comuns são piadas sobre animais (sendo que o mais utilizado no Brasil é o "papagaio boca-suja", mas também há piadas com animais antropomórficos), bêbados, fanhos,[13]loiras,[14]religiosos, sogras, loucos e etc.[15]
Um tipo de piada raramente utilizado no Brasil ou em Portugal mas que merece citação pela gigantesca popularidade nos Estados Unidos é o "Sua mãe é tão…". Essas piadas resumem-se a falar "Yo mama’s so…" ("Sua mãe é tão…") seguido de uma ofensa (geralmente a ofensa principal é a obesidade, como por exemplo: "a sua mãe é tão gorda que…").[16]
Esse tipo de piada é extremamente popular em shows de humoristas afro-americanos e pode ser conferido em dezenas de filmes que fazem referência a essas apresentações.[17]
Joãozinho é um nome genérico que se utiliza em piadas que envolvem um garotinho que faz perguntas ou comentários que provocam espanto em adultos. Esse é o nome utilizado no Brasil e em Portugal (em Portugal sendo popular o termo Menino Joãozinho), mas esse contexto de piada também é utilizado em outros países. Variações incluem Juquinho, Toninho e Zezinho.
Os nomes mais populares são: Little Johnny (Estados Unidos), Jaimito[18] (Espanha), Pepito (México), Vovochka (Rússia), Pepíček (República Tcheca), Pierino (Itália) e Toto (França).
Seu Lunga é um personagem folclórico do nordeste do Brasil, famoso pela sua rispidez quando fazem perguntas estúpidas. As piadas neste estilo são conhecidas como "pergunta idiota, resposta cretina", ou "tolerância zero".[19]
A personagem SEU LUNGA foi caracterizado por outra personagem, Seu Saraiva, integrante do programa de quadros de humor da rede brasileira de televisão Globo, Zorra Total.
Muitas vezes algumas piadas tradicionais acabam gerando termos ou frases que se tornam populares, deixando de ser necessário o contexto da piada para que ela exista. Alguns exemplos estão relacionados abaixo.
A expressão "amigo-da-onça" é utilizada para referir-se a um amigo falso, hipócrita, também chamado popularmente de "amigo-urso"[20] em referência a uma fábula de Esopo.[21] A expressão tornou-se bastante popular no Brasil a partir dos anos 40, quando o cartunista Périclescriou o personagem Amigo da Onça[22] a partir de uma piada que ouvira, na qual um caçador famoso era questionado por um ouvinte inconveniente sobre como faria para matar uma onça diante de situações progressivamente mais desesperadoras (a arma falha, as balas acabam, a faca fora perdida, etc.) até finalmente desabafar: “Afinal, você é meu amigo ou é amigo da onça?”
A frase "Nós quem, cara-pálida?" costuma ser usada, de forma irônica, sempre que alguém quer indicar que não será envolvido no problema que o interlocutor está apresentando. Por exemplo, um amigo diz ao outro que eles têm um determinado problema, ao que o amigo responde com essa frase para indicar que ele deve resolver sozinho, pois não terá sua ajuda.[23] A piada em questão envolve o Cavaleiro Solitário e seu amigo índio, o Tonto, que se vêem cercados de peles-vermelhas, de forma aparentemente desesperadora. Tonto reage à frase “Parece que desta vez estamos perdidos, amigo” com o comentário “Nós quem, cara-pálida?”
A expressão "subir no telhado" é bastante utilizada para referir-se (de forma irônica) a alguém que faleceu ou que deve falecer em breve ("Fulano subiu no telhado"). Também é utilizada, em menor escala, para falar sobre alguma outra coisa que provavelmente será destruída ou deixará de existir.[24] Baseia-se na piada de um caseiro simplório que informa ao patrão em viagem que o gato de estimação da família morreu. Após censurar o empregado por sua falta de sensibilidade, o patrão lhe diz que notícias trágicas devem ser dadas de forma gradual, exemplificando no caso do gato dizendo que o caseiro deveria ter começado por dizer que o gato subira no telhado. Ao terminar a lição de moral o patrão recebe de seu caseiro a notícia de que sua mãe acabara de subir no telhado.
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